sábado, 20 de novembro de 2010

POESIA POPULAR AO OLHAR DE MANOEL FILÓ






Do outro lado da vida

                        Não morremos, acontece apenas
                        Nos preparamos para o julgamento
Os filmes passam ficarão as cenas
Despercebidas pelo firmamento

Quebram-se as bases de ilusões terrenas
Sofre a matéria o desmoronamento
As almas voam regiões serenas
Bem muito acima donde passa o vento

Lá não se erra não se faz barulho
Ninguém se exalta, não se exibe orgulho
Tudo se porta como o Pai consente

Os espíritos vagando aguardarão
Esperando alcançar a salvação
Quando Deus mandar cristo novamente       ( MANOEL FILÓ)




O silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras 



Luiz:
Quando o sol faz a curva no poente
Deixa a terra sinistra e esquisita
O escuro noturno me visita
Aumentando a saudade permanente
A lembrança sangrando o peito rente
Sem ter mais ilusão para essas curas
Um carinho, se ganho, é sem ternuras
O sorriso permanece com gemido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Manoel:
De mulher ninguém eu fui chamada
Nada disso alterou meu visual
Cada dor que sentisse era normal
De pobreza e paixão fui coroada
Na passagem da negra madrugada
Quando Vênus brilhava nas alturas
Eu andava nas ruas mais escuras
Escondendo a sujeira do vestido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras


Luiz:
Ninguém vem escutar a dor que sinto
Nem conversa comigo pra saber
Nesse mundo o que tenho pra dizer
Pois falando a verdade ainda minto
O caminho que sinto eu mesmo pinto
Com a tinta sagrada das loucuras
Desenhando visões das aventuras
Que levaram da vida o meu sentido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Manoel:
Eu ganhei o troféu da ignorância
Foi coberto de lodo meu passado
Me joguei como um pombo descasado
Nas primeiras paixões da minha infância
Arrotando ilusões e arrogância
No inicio das falcas aventuras
Quando as minhas irmãs dormiam puras
Eu já era envolvida com bandido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Luiz:
Minha alma se assusta sofre e chora
Quando vejo o meu corpo caminhando
Dois cachorros da rua acompanhando
Esses passos que eu dou fora de hora
Do meu rosto a beleza foi embora
Apagando o sorriso das canduras
Ninguém sabe fazer essas pinturas
Quando o tempo carrega está perdido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Manoel:
Já andei me sentindo pelos ares
Parecendo-me até pisar nas telhas
Dos casebres de lâmpadas vermelhas
Pequeninos prostíbulos populares
Enfrentando a guerrilha dos olhares
Fui das mais disputadas formosuras
Hoje sou a pior das criaturas
Que comeram do fruto proibido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Luiz:
Sou coruja que dorme no telhado
Na antena do rádio de uma casa
Dando soco no vento com a asa
Espantando besouro ressacado
Na resquícia lembrado do passado
O meu peito cansou-se de procuras
Minha mente confusa de misturas
Acelera o juiz enlouquecido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Manoel:
Eu troquei minha honra por cachaça
Encardi de uma vez minha conduta
Este nome cruel de prostituta
Ajudou a construir minha desgraça
O destino quebrou a minha taça
Rasurou o meu titulo de bravuras
Hoje sinto o ardor das queimaduras
Que mancharam meu filme colorido
O silencio da noite é que tem sido
Testemunhas das minhas amarguras

Luiz:
Sou da sombra e do frio companheira
Mensageira da carta que não vem
De amores eu tive mais de cem
Minha ultima ilusão foi à primeira
Dos prazeres da carne eu fui parceira
No escuro infernal das ataduras
Se errei, Deus perdoe as minhas juras
O amor que eu queria é falecido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Manoel:
Sou a pomba perdida do rebanho
Engasgada com resto de comida
Se não fosse o efeito da bebida
Que seria de mim, se nada ganho
Só consigo dormir depois que apanho
No vapor de anormais temperaturas
O meu livro está cheio de rasuras
Dos pecados que tenho cometido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras     (MANOEL FILÓ)